Pesquisa: obras “não-objeto” + artistas cinéticos


ABRIGO POÉTICO - Lygia Clark



Lygia Clark traz questionamentos relacionados à arte, sobre a posição do papel do artista, da obra de arte em si e o papel do observador. Ela propõe a desmistificação da arte e do artista e a desalienação do espectador que, para a artista, deve compartilhar a criação da arte. Na medida em que amplia as possibilidades de percepção sensorial em seus trabalhos, integra o corpo à arte, de forma individual ou coletiva.

OBRA MOLE – Lygia Clark

1. O que faz da "Obra Mole" um não-objeto
A obra mole rompe com a ideia tradicional de objeto de arte como algo fixo, estável e autônomo. Ela não possui uma forma definitiva: só se realiza plenamente no contato com o corpo do outro, no gesto que a transforma continuamente. Por não existir de maneira acabada, ela é mais relação do que coisa — daí sua natureza de "não-objeto", uma presença fluida, aberta, em constante devir.

2. Particularidades materiais e sensoriais
A escolha da borracha como material principal introduz uma dimensão tátil e instável que subverte a rigidez da escultura tradicional. A obra convida à manipulação, ao toque, ao abraço, trazendo o corpo sensorial para o centro da experiência estética. Peso, temperatura, elasticidade: cada qualidade material estimula percepções múltiplas e subjetivas, impossíveis de serem reduzidas a uma única interpretação visual.

3. Contexto e abertura do imaginário
No contexto dos anos 1960, em meio à crise dos valores modernos e à efervescência dos movimentos de contracultura, a obra mole surge como uma recusa das formas fechadas e da distância entre arte e vida. Ela propõe outra experiência: viva, instável e experimental. Ao pedir que o público toque, deforme e interaja, Lygia Clark abre espaço para imaginar a arte como campo de liberdade sensorial e invenção coletiva, rompendo os limites entre sujeito, objeto e mundo.

4. Corpo e matéria: dissolução de limites
A obra mole dissolve os limites entre corpo e matéria. Ela é maleável como a pele, fluida como um organismo vivo. Sua forma depende do toque, do peso, da pressão — é uma extensão do corpo e, ao mesmo tempo, algo diferente, que se deixa transformar sem resistência. A arte, aqui, não é contemplada de longe: é vivida na carne.

5. Instabilidade como poética
A instabilidade é a linguagem da obra mole. Não há equilíbrio a ser conquistado, nem forma ideal a ser alcançada. Cada interação é uma nova configuração. A poética de Lygia Clark nasce da impermanência: uma escultura que se dobra, afunda, estica, esvazia, propondo ao imaginário um espaço de constante reconstrução.

6. Subversão da forma e da função
Ao abandonar as linhas rígidas e os contornos fixos, a obra mole recusa não só a forma tradicional, mas também a função simbólica da arte enquanto objeto de contemplação. Ela não representa nada; ela é a experiência, o gesto, a ação. Nela, forma e função se embaralham e escapam às categorizações clássicas.

7. Experiência sensorial como obra
Na obra mole, o que se experiencia sensorialmente — o frio da borracha, a tensão sob a pele, o peso que escorre entre as mãos — é a obra. O visual perde primazia: o ver cede espaço ao tocar, ao sentir, ao envolver-se fisicamente. A experiência deixa de ser sobre a imagem e passa a ser sobre o envolvimento imediato, quase íntimo, com a matéria.

8. Abertura para o imprevisível
Cada encontro com uma obra mole é único porque envolve o imprevisível: como o corpo se move, como a gravidade atua, como a borracha responde. Lygia Clark não cria uma forma, ela cria uma situação. O artista e o público se tornam coautores de uma realidade momentânea e irrepetível.


Escolhemos a obra mole nº 3. Nela, o que mais nos chamou atenção foi a vontade que nos causa de tocá-la e descobrir como é a sensação dela na pele, como é explorar suas formas e infinitas possibilidades, já que como uma obra, sem o toque, não existe significado nela. 


OBJETO CINÉTICO – Abraham Palatnik

Abraham Palatnik (1928 - 2020) foi um artista plástico brasileiro, pioneiro da arte cinética no Brasil. Suas obras contêm instalações elétricas que criam movimentos e jogos de luzes. A obra que escolhemos se chama "Objeto Cinético" e o que mais nos chamou a atenção foram as formas, as cores e a sensação de movimento que ela transmite, além da maneira como os elementos estão organizados. Apesar da predominância do tom de cinza, as outras cores se encaixam bem e, mesmo sem seguir um padrão rígido de organização, a obra não passa a sensação de bagunça.

Mesmo sem contato físico direto com a obra, é possível passar um longo tempo contemplando seus movimentos, que são tão leves e fluidos que lembram uma brisa suave. Ao variar o ângulo de observação, a obra se transforma a cada segundo.

As obras de Palatnik, em geral, não devem ser apressadas; são para serem apreciadas com calma e se revelam ao longo do tempo.


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